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terça-feira, 3 de março de 2009

Brasil se prepara para reforma ortográfica

Folha de São Paulo, 20/8/2007

Ministério da Educação já prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia

DANIELA TÓFOLIDA REPORTAGEM LOCAL

O fim do trema está decretado desde dezembro do ano passado. Os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no corredor da morte à espera de seus algozes. Enquanto isso, continuam fazendo dos desatentos suas vítimas, que se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça e, assim, perdem pontos em provas e concursos.O Brasil começa a se preparar para a mudança ortográfica que, além do trema, acaba com os acentos de vôo, lêem, heróico e muitos outros. A nova ortografia também altera as regras do hífen e incorpora ao alfabeto as letras k, w e y (veja quadro). As alterações foram discutidas entre os oito países que usam a língua portuguesa -uma população estimada hoje em 230 milhões- e têm como objetivo aproximar essas culturas.Não há um dia marcado para que as mudanças ocorram -especialistas estimam que seja necessário um período de dois anos para a sociedade se acostumar. Mas a previsão é que a modificação comece em 2008.O Ministério da Educação prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia. "Esse edital, para os livros que serão usados em 2009, deve ser fechado com as novas regras", afirma o assessor especial do MEC, Carlos Alberto Xavier.É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar, afirma o embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comissão de Países de Língua Portuguesa). "Não tenho dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade se adequará. Levará um tempo para que as pessoas se acostumem com a nova grafia, como ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor aos poucos."Tecnicamente, diz Moreira, a nova ortografia já poderia estar em vigor desde o início do ano. Isso porque a CPLP definiu que, quando três países ratificassem o acordo, ele já poderia ser vigorar. O Brasil ratificou em 2004. Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro.António Ilharco, assessor da CPLP, lembra que é preciso um processo de convergência para que a grafia atual se unifique com a nova. "Não se pode esperar resultados imediatos."A nova ortografia deveria começar, também, nos outros cinco países que falam português (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste). Mas eles ainda não ratificaram o acordo."O problema é Portugal, que está hesitante. Do jeito que está, o Brasil fica um pouco sozinho nessa história. A ortografia se torna mais simples, mas não cumpre o objetivo inicial de padronizar a língua", diz Moreira."Hoje, é preciso redigir dois documentos nas entidades internacionais: com a grafia de Portugal e do Brasil. Não faz sentido", afirma o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça.Para ele, Portugal não tem motivos para a resistência. "Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico. Isso não é desculpa", afirma.Colégio trocará livros didáticos em até 2 anos.
Colégios particulares de São Paulo já estão se preparando para a reforma ortográfica. As 165 escolas associadas da rede Pueri Domus, por exemplo, terão, em até dois anos, todo o material didático adequado às novas regras.Na Fuvest, o maior vestibular do país, não há data definida para a aplicação das regras. Na editora Sextante, a nova ortografia passará a ser incorporada aos novos livros e aos títulos do catálogo à medida que forem, respectivamente, lançados e reimpressos. Já a Companhia das Letras e a Nova Fronteira informaram que ainda não definiram de que forma farão as alterações.Antonio Carlos Sartini, superintendente do Museu da Língua Portuguesa, também aguarda o início da nova ortografia. "Estaremos atentos e iremos observar e analisar todas as mudanças." (DT)

O que muda

Entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro será alterado com as mudanças
HÍFEN: Não se usará mais:1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
TREMA: Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
ACENTO DIFERENCIAL: Não se usará mais para diferenciar:1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETO: Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
ACENTO CIRCUNFLEXO: Não se usará mais:1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"
ACENTO AGUDO: Não se usará mais:1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i".

A FAVOR
"O Chico achou ótima a ideia, porém prefere permanecer tranquilo nas férias." Foi essa a resposta bem-humorada do assessor de imprensa de Chico Buarque, Mário Canivello, ao pedido de entrevista da Folha sobre a nova ortografia. Em férias, o cantor e escritor não pode responder o que acha das mudanças, mas seu assessor já pratica as novas regras. "Idéia" sem acento e "tranqüilo" sem trema serão cada vez mais comuns nos próximos anos.Quem poderia se beneficiar com as alterações é o escritor e colunista da Folha Ruy Castro. Registrado com um y no nome, ele conta que passou a vida sendo vítima dos legalistas, para quem a letra não existia. "Para eles, Ruy deveria ser Rui. Pelo menos nisso, para mim, a nova reforma será ótima. Ela garante o meu direito ao y, e, assim, os antigos legalistas podem ir lamber sabão... e, como são legalistas, terão de se curvar à nova ortografia."O escritor diz que sempre se orgulhou de respeitar as regras da língua, mas que tudo tem um limite. "Em criança, fui ensinado a escrever "tôda" porque havia um pássaro, que nunca vi mais gordo, chamado "toda". Depois, aboliram o circunflexo em "toda" e mandaram o tal pássaro passear. E assim fizeram com todos os acentos diferenciais", conta. "Adaptei-me facilmente àquela nova ortografia e até hoje venho utilizando-a com razoável eficiência. Mas, agora, chega. Já passei da idade de reaprender a escrever. Vou seguir usando a ortografia vigente no dia de hoje e, no futuro, se quiser, o computador que me corrija."O computador ou os revisores das editoras. Serão eles que também farão as correções dos novos livros de Marçal Aquino e Luiz Ruffato, por exemplo. "Fui revisor em jornal e sempre gostei muito da língua. Como todo brasileiro, porém, não sou grande conhecedor das regras. Me preocupo mais, por exemplo, em evitar palavras repetidas porque sempre há a figura do revisor", diz Marçal, autor de "Cabeça a Prêmio".Ele afirma que acha bem-vindo tudo o que for para simplificar a grafia. Já Ruffato diz não ser contra nem a favor. "Tem coisas mais urgentes para serem resolvidas, como uma melhor relação cultural com os países lusófonos. Mal conhecemos os países da África que falam português." O escritor de "Eles Eram Muitos Cavalos" afirma que vai continuar redigindo seus livros do mesmo jeito. "O trabalho será mesmo dos revisores." (DANIELA TÓFOLI)

CONTRA
O custo supera o benefício PASQUALE CIPRO NETOCOLUNISTA DA FOLHA
A IDÉIA DE UMA ortografia igual para todos os (hoje oito) países lusófonos é sustentada por este argumento, apresentado pelo grande Antônio Houaiss (o pai brasileiro do "Acordo") no "Breve Histórico da Língua e da Ortografia Portuguesa": "A existência de duas grafias oficiais da língua acarreta problemas na redação de documentos em tratações internacionais e na publicação de obras de interesse público". Sim, isso é fato. Um sueco que queira estudar português pode ficar em dúvida entre "adoptar" (Portugal) e "adotar" (Brasil), por exemplo. Nesse caso, o "Acordo" abrasileira a grafia, o que desagrada aos portugueses, habituados (há décadas) ao "p" e ao "c" "mudos" de diversas palavras. E como faria o sueco se tivesse de optar entre "cômodo" (Brasil) ou "cómodo" (Portugal)? Jogaria uma moedinha para o alto, visto que, nesse e em muitos outros casos, o projeto de unificação não unifica... Mas o "Acordo" não se limita a "uniformizar" a grafia: aproveita a ocasião para estabelecer outras alterações no sistema ortográfico. A mais marcante talvez seja a que dispõe sobre o emprego do hífen. O que hoje é muito ruim muda para... Para igual ou pior. A mudança nos diferenciais de tonicidade é outro ponto negativo. Na ânsia de eliminar acentos mais que inúteis, como o de "pêra" e "pólo", elimina-se também o de "pára" (verbo), mais que essencial. Some-se a tudo isso o desconforto da inevitável convivência -por um longo período- com duas grafias (a "nova", que seria vista nos jornais e revistas, por exemplo, e a "velha", que estaria diante de nós nos livros, enciclopédias etc.) e se chega à conclusão de que o custo supera os benefícios. Quem viveu a reforma de 1971 sabe bem do que estou falando. É isso.

PASQUALE CIPRO NETO é autor de livros didáticos e apresentador e idealizador do "Nossa Língua Portuguesa", da Rádio e TV Cultura.

5 comentários:

  1. Parabens meu amor...muito bacana sua iniciativa..tenho muito orgulho de vc..Deus te abençoe com este blog..sensacional baxinha!!!

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  2. Gatinhaaaaaaa...
    Amei!
    Foi muito boa sua iniciativa ajudar nossos educandos on-line.
    Parabéns por ser tão profissional, qualificada, esforçada, dedicada, maravilhosa, amada...cansei...rsrsrs
    beijos
    Tia Fernanda

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  3. tia joyce manda para o meu email o slide da reforma ortografica: mimiffa@hotmail.com!!
    bjsss, ficou massa seu blog!
    Milena

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  4. Tia muito manero seu blog parabéns

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  5. profeee
    ainda bem que vc entro pro hay society dos blogs educativo.....fez uma boa escolha imagina a escola jb indo pro solentrando sem voce aii naum conseguiamos ganhar nenhuma......parabens ....o blog fico muito massa e entedir que o portugues na minha parte deve ser ensinado em pensamento em versos prosas poesia poetica bjs""""""":D

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