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terça-feira, 1 de março de 2011

Literatura - Visão além do alcance


“Quando nos colocamos ante uma obra, ou uma sucessão de obras, temos vários níveis possíveis de compreensão, segundo o ângulo em que nos situamos.” (Antonio Candido)

Ao lermos uma revista ou um jornal, partimos do princípio que o conteúdo de tais meios de comunicação traz para o leitor um ponto de vista mais próximo da realidade quanto tenha sido possível o repórter depreender  a partir de um determinado fato. O que concluímos com base nessa leitura é algo previamente previsto e muitas vezes direcionado.

Isso ocorre porque o texto não literário tem por objetivo um referencial, o que torna seu significado limitado por objetivos determinados.
Leia este texto:

Pergaminho com mais de 100 anos é encontrado após terremoto na Nova Zelândia

As equipes de resgate que removem os escombros deixados pelo terremoto de Christchurch, na Nova Zelândia, encontraram debaixo de uma estátua que desmoronou uma cápsula do tempo que teria mais de um século de antiguidade.
Dentro da garrafa de vidro há um pergaminho enrolado e um cilindro de metal cuja origem está sendo analisada pelos arqueólogos, informou a imprensa local nesta terça-feira.
O frasco foi encontrado enterrado ao pé da estátua do fundador da cidade, John Robert Godley, uma semana depois do terremoto de manitude 6,3 que atingiu a cidade causando pelo menos 154 mortes.
A garrafa foi entregue ao Museu de Canterbury, cujo pessoal irá restaurar o pergaminho em uma câmara especial antiumidade antes de desenrolá-lo para ler o texto que leva escrito.
Por outro lado, não foi divulgado nenhum detalhe sobre o cilindro.
O prefeito de Christchurch, Bob Parker, assinalou que a descoberta é um "milagre" porque ocorreu exatamente uma semana depois do tremor. A estátua do fundador irlandês da cidade foi erguida em 1867.
 http://www1.folha.uol.com.br/mundo/882550-pergaminho-com-mais-de-100-anos-e-encontrado-apos-terremoto-na-nova-zelandia.shtml acesso em 01 de mar. 2011


Esse tipo de texto permite apenas um tipo de interpretação, pois parte de um referente que prioriza a compreensão objetiva de determinadas informações.

Já no texto literário temos caminho aberto para dar os mais variados significados ao texto, o que chamamos de plurissignificação. Portanto, enquanto o texto não literário possui uma gama limitada de interpretações, no texto literário temos diversas possibilidades de leitura.

A cada leitura uma nova possibilidade se abre e a cada novo leitor outras tantas, pois o texto literário não é algo fechado, ele é vivo, depende de quem o lê, quando lê...não possui apenas o sentido denotativo, mas permite ao leitor acrescentar a ele seu próprio repertório, sua realidade. Por isso, um livro nunca é igual, ele se reinventa a cada leitura.

Leia este outro texto:

Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:
- Eu, hein?... nem morta!
(Luis Fernando Veríssimo)

A função do poeta, segundo Mario Quintana conclui em sua crônica Pausa, é “ fazer o leitor pensar e não pensar por ele”. Essa é a grande mágica da literatura , ela nos provoca, revolta, encanta, acalma; faz rir, chorar...faz pensar. Pensar sobre a realidade, sobre nós mesmos. Ela nos desafia a expandir nossa visão e enxergar um mundo que difere muitas vezes do senso comum. A literatura não nos permite ‘ver’ com olhos triviais.

Até mais

Beijos da tia 

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